Por Ádalo Reis | Partner Business Manager | VMware Brazil
O ano era 320 a.C. e os pensadores Platão e Aristóteles começavam a discutir a relação entre ética e política. Debatiam que ambas não deveriam andar em separado, que agentes públicos deviam ser sábios, justos e virtuosos.
E não é que ainda hoje, em pleno Século XXI, tal relação nunca esteve tão evidente e tão pouco harmoniosa! Vivemos em tempos estranhos, em que a relação de empresas privadas com o Governo vem sendo pauta de escândalos atrás de escândalos. Tempos em que empresas investem muito dinheiro em processos e políticas internas para que todos estejam em conformidade com boas práticas nos negócios.
Não deveriam! A nossa Carta Magna, em seu artigo 37, já estabelece princípios constitucionais, que são valores que devem permear toda e qualquer relação com o Governo. São princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Olhem que maravilha!!! Basta agir de forma legal aos olhos da Lei, sem preferência, atuando com preceitos morais bem fundamentados, divulgando ao público em geral e com a maior eficiência possível que não estaríamos vivendo tempos tão sombrios. A boa relação entre entes públicos e privados deveria ser natural e perene. Fosse assim, quanto dinheiro poderia ter sido aplicado em benefício da sociedade. Corrupção é perversa, pois retira dinheiro de uma coletividade para se aplicar em lugar nenhum a não ser nos interesses de poucos. Isso mata! Dinheiro do povo que deveria voltar ao povo sob a forma de bens e serviços para melhorar a vida da coletividade.
Em mais de 20 anos trabalhando em empresas privadas vendendo produtos ou serviços de tecnologia para Governos, sempre me deparei com o dilema de ter que cumprir metas trimestrais com negócios “saudáveis” do ponto de vista ético, sem expor minha empresa ou meu próprio CPF. Uma relação, como disse Renato Russo, “de endoidecer gente sã…”.
Outro dia mesmo estava conversando com uma de minhas filhas sobre isso. É possível ter sucesso nesse mundo, onde a corrupção parece ser endêmica, fazendo somente negócios saudáveis e dentro dos princípios constitucionais? Meu entendimento é que sim. Simplesmente pelo fato de que uma coisa não tem qualquer relação com a outra. Ou seja, as ações de um homem de bem devem ser permeadas por um comportamento reto. Quando se é pressionado por uma venda imediata e inconsequente em prol de números, a reflexão que deve ser feita é que pior do que não vender (não bater suas metas, portanto) é vender mal. Uma venda mal feita, visando resultados imediatistas, geralmente traz consequências de grandes proporções a todos os envolvidos.
Como, então, devemos proceder quando nos deparamos com essas “situações de risco e pressão”? Existe alguma receita de bolo a ser seguida? Claro que não. Ética não é tangível. Ética deve ser associada a agir com correção em qualquer situação, mesmo que o caminho seja mais longo e tortuoso, que geralmente é.
Mas o que é agir com correção? Fácil! Geralmente problemas de grandes proporções começam nas pequenas coisas. Por que você, por exemplo, tem que pagar almoço de negócios para um funcionário público? Não são dois almoçando? Então cada um tem que pagar sua própria conta. Na verdade, esse suposto almoço de negócios não deveria sequer acontecer. Ou, ainda no campo dos exemplos, por que presentear um funcionário público seja lá com o que for? Presentes em geral são indícios de relacionamentos espúrios e não de negócios.
O grande exercício da ética é o ambiente de trabalho, onde você não tem as afetividades que tem na família ou com amigos próximos. No trabalho, torna-se mais difícil, portanto, a prática da ética. É lá que se prova seu real valor. Felizmente pertenço a uma organização que se preocupa muito com essas boas práticas na relação de seus colaboradores com seus clientes, colegas e sociedade em geral. Conviver num ambiente assim é uma tranquilidade a mais para que desempenhemos nossos papéis de forma que nosso foco seja apenas no desenvolvimento do negócio e que esse negócio seja de real valor, saudável. Como já dito aqui, sem dúvida um caminho mais longo, porém mais limpo, claro e compensador.
Voltando a Aristóteles, lá naquele longínquo 320 a. C., ele destacava que agir com ética é ter capacidade de estabelecer relações sem invadir o espaço do outro e sem a imposição dos meus valores sobre os valores do outro. Não seria ótimo uma sociedade que, ao invés de sucumbir às benesses do caminho mais fácil ou às perturbadoras glórias mundanas, apenas refletisse sobre os ensinamentos de Aristóteles? Pense nisso!
Escrito por
Ádalo Reis
Partner Business Manager
VMware Brazil