Há exatos 20 anos, quando comecei minha carreira em vendas para o governo numa multinacional de software, realmente me sentia como uma garota idealizadora, que acreditava muito que era possível vender para o governo dentro das leis/ regras.
Vendas para o governo é sem dúvida um segmento comercial de grande relevância financeira no Brasil. Estima-se que as compras dos três níveis de governo, somados os 5.560 municípios, os 27 estados e a área federal, estejam na ordem de 120 bilhões de Reais. No entanto, uma das principais barreiras para empresas que nunca fizeram negócios com o governo é a sensação de que somente vende pra governo quem tem contatos, relacionamento e, num extremo, quem paga propina. Isso afasta justo as empresas competentes em suas áreas de expertise e é uma perda enorme para todos.
“Estima-se que as compras de governo estejam na ordem de 120 bilhões de Reais.”
Questiona-se muitas melhorias possíveis para nossa antiga lei 8.666/93, mas a verdade é que ela prevê diversas formas de proteção à concorrência, algumas inclusive que tornam os processos tão burocráticos, porém sem dúvida nenhuma necessários, afinal estamos falando de dinheiro do contribuinte. No entanto, diversas empresas têm medo de usar de instrumentos como questionamentos, recursos ou impugnação com receio de “ficarem queimados” no mercado. Mas queimado como? Se há algo errado e temos os instrumentos para mostrar para os responsáveis, por que não o fazer? Na minha opinião isso é uma cultura demasiadamente arraigada nas pessoas, assim como outros problemas polêmicos na sociedade e tudo isso fica camuflado no silêncio do medo ou no silêncio da indiferença.
Gosto de acreditar que todas as empresas capacitadas podem vender para o governo e, para isso, precisamos de mais empresas/ indivíduos que “levantem as mãos” para mostrar o que ainda há de errado, e quem sabe assim, ficariam apenas aquelas “em compliance”. As leis do pregão eletrônico, da transparência, e diversas outras leis estaduais que exigem programas de integridade de seus fornecedores são avanços tão reais nesse universo de vendas para governo que confirmam meu otimismo nesse movimento.
As Leis que exigem programas de integridade em compras públicas aliadas a certificações independentes dos licitantes aumentam a credibilidade de todo o processo.
Olhando em retrospectiva noto que tudo que hoje entendo e dissemino profissionalmente na CertiGov é factível e prova disso é que estamos alcançando um número de 150 empresas certificadas. Quem imaginaria isso 20 anos atrás?
Hoje então não mais garota, mas ainda idealizadora, espero que com nosso trabalho, possamos atingir centenas e centenas de empresas e, com isso, de pouquinho em pouquinho, impactar nosso Brasil e tenho certeza que, cada um dando sua contribuição, podemos viver num país melhor.
Autora: Pamela Silva
Diretora CertiGov